DORA IN PIECES, OU DORA EM PEDAÇOS, A OBRA DE OSWALDO PEPE, É DISPONIBILIZADA PARA ENTENDERMOS PORQUE ESTAMOS SEMPRE TÃO PRÓXIMOS DO SURF NOSSO DE CADA DIA.
Oswaldo Pepe e sua criação. Foto: Arquivo Pessoal |
Quando se fala em MITOS - sejam eles de qualquer instancia -, atitudes e sensações diferenciadas povoam a mente de quem tenta imaginar a viagem da vida de cada um destes ídolos.
Os momentos e as diversas possibilidades, que este indivíduo marcado pela sua história, teve para resolver as situações que o rodeavam, dentro de sua trajetória, poderiam ter mudado completamente o curso de vida para muitos que nem imaginam hoje seguir, inconscientemente, certas atitudes e alguns estereótipos reprovados, até pouco tempo, pela “sociedade” comum. Digo isso, porque nem todos os, assim denominados mitos, foram perfeitos em tudo que fizeram.
Mesmo assim, muitas dessas atitudes puderam agitar gerações inteiras a se corresponder em linguagens e ações predefinidas, para fugir do "óbvio reinante". E com o passar do tempo, tudo acaba se incorporado sem se notar, sendo chamado assim, de "estilo de vida".
Partindo deste princípio, o surfista – após os 50 anos de idade -, dono de uma agencia de comunicação empresarial, em São Paulo - das mais importantes para o desenvolvimento de revistas de surfe no Brasil, como a Fluir -, colecionador de pranchas antigas e co-fundador da revista Trip, Oswaldo Pepe, resolveu chamar a atenção de toda a tribo que pega onda, por todos os litorais do planeta, que o nosso “estilo de vida” é baseado numa figura controversa no mundo do surfe. Tão controversa que, para Pepe, não é de seu gosto muitas das atitudes “patenteadas” pelo mito Mickey Dora.
Gravura de Julia Bax feita especialmente para o livro Dora in Pieces. Foto: Oswaldo Pepe/arquivo Pessoal. |
Oswaldo Pepe disponibilizou na íntegra – em forma eletrônica, para baixar clique aqui -, com a divulgação pelo site Waves, sua mais recente criação: Dora in Pieces. Ou Dora em Pedaços.
Sua intenção, com esta abertura, é comprovar que todos nós, surfistas, temos um pouco ou muito de Dora correndo em nossas veias ou em nossas atitudes. “Mas o pior é fora d'água, quando a gente vê neguinho fazendo de tudo, deixa eu repetir, DE TUDO, para continuar a surfar”, comenta Pepe.
Pepe quer que nós mesmos evidenciemos essas atitudes em nosso dia a dia, através de relatos e histórias pouco comuns ou não, que fazem nos “prostituírmos” para estar sempre próximo ao mar, como divagou Bob Cooper e destacado por Oswaldo Pepe nesta entrevista.
SurfeMais - Quem é Oswaldo Pepe?
Oswaldo Pepe - É um maluco que desde o primeiro dia que viu o Surf se apaixonou perdidamente e aos 50, finalmente conseguiu realizar seu sonho de pegar onda.
SM - Fale um pouco da Artpresse?
OP - A Artpresse é minha agência de comunicação empresarial; foi fundada em 1976, a partir da organização de um evento cultural. Deu certo, e foi indo até virar uma empresa pró e respeitada, com 35 anos de idade...
SM - Como você teve contato com o surf?
OP - Não lembro, mas provavelmente foi pela mídia e depois no Rio, no Arpoador. Depois um amigo de praia, Fabio Cimino me apresentou o Paulo Lima e o Califa, que estavam lançando uma nova revista chamada TRIP, para a qual queriam serviços de assessoria de imprensa. Fui contratado e daí entrei definitivamente na estrada do esporte, com um monte de serviços realizados para um monte de empresas.
SM - Fale sobre a sua surf house e sobre a sua coleção de pranchas?
OP - A casinha fica no Canto do Moreira, em Maresias. Reuni uma coleção de 97 pranchas, todas de uma só época, de 65 a 75, mais ou menos, começo com os pranchões e vou até as surfboards monoquilha, sem lugar para prender a cordinha ou com pita ou furo na quilha. Depois, triquilihas etc.. não me interessam mais.
SM - Quando começou a surfar e porque?
OP - Só consegui reunir condições para pegar onda aos 50! Ninguém acreditava que era possível, mas era meu sonho e eu tinha pesadelos imaginando que iria passar por essa vida sem surfar! Acabei conseguindo com algumas ajudas do céu: o Capitão David, do Rosa, o Tom e o Nena de Saquarema e o Zé Paulo, grandes mestres que não só me ensinaram a técnica, mas principalmente o espírito e o amor do esporte.
SM - Sobre suas viagens para surf, por onde passou?
OP - De Imbituba até Saquarema, pegando mais no Moreria, em Maresias e na Baleia, no litoral norte de SP. Também fui duas vezes para o North Shore – Hawaii -, a primeira uns dias e a segunda um mês inteiro. Afff, lá é outra coisa, tem que aprender tudo de novo, kkkk.
SM - Fale sobre aquela sua viagem para o Hawaii em que seus "pensamentos" sobre a cultura do surf aforaram em várias e ótimas matérias para o site Waves?
OP - Na segunda viagem, quando fiquei um mês, fui super fora de forma. Tinha pegado uma pneumonia dupla em agosto, saindo de 4 horas de surf numa friaca na Baleia (estava grande e perfeita...). Quando fiquei bom, treinei forte demais e torci o pescoço, enfim, uma droga. Ainda assim, meu médico do Surf, o querido Marcelo Baboughluian, falou: você vai. E eu fui, em dezembro, com colar cervical e tudo o mais. Daí foi roubada atrás de roubada, maravilhoso, até escrevi um depoimento que o site Waves publicou e que teve grande sucesso, é só procurar Roubadas No Hawaii que acha, hehehe.
SM - Você que fez parte, de uma forma diferente, da história do surfe no Brasil. Como você vê o atual momento que o surf brasileiro vem passando perante ao circuito mundial?
OP - Nisto de circuito e competições sou meio Mike Dora. Acho que a competição traz a tona o pior de cada um - mas é necessária para o esporte e os negócios que ele gera, portanto, não tem sentido criticar muito. Assim, vou com a opinião do Alfio Lagnado – proprietário da Hang Loose -, que diz que “para formar campeões tem de haver uma infra-estrutura que promova o esporte das bases até as competições, sem a qual não adianta sonhar”. Percebo que isto está sendo feito e espero o dia em que também teremos um campeão mundial, e se possível um prêmio Nobel também...
SM - Com o seu olhar crítico, baseado no que você acompanhou em todos este anos na área de marketing e publicidade voltados para o surfe, como você vê a atuação das empresas brasileiras no cenário mundial?
OP - A Austrália, que tem ótimas ondas, fez do surf um esporte nacional. O Brasil, que não tem ondas tão boas, mas com uma costa gigante e uma moçada feliz da vida e esforçada ainda não fez isso. Hoje, somos a quinta ou sexta economia do mundo. Nossa hora está chegando. Temos a Hang Loose, que é uma empresa genuinamente nacional, a Mormaii, a Totem, a Osklen, que são nossos patrimônios. Ou seja, temos qualidade, temos invenção e em termos de "softpower" (vão lá dar um google), ninguém é melhor que nós. Somos queridos no mundo inteiro, todo mundo gosta dos brasileiros e, mais ainda, das brasileiras, hehehe, brincadeira. Portanto, mãos a obra, tá chegando a nossa vez, aloha!
Uma das gravuras de Julia Bax. Foto: Oswaldo Pepe/Arquivo Pessoal |
SM - Mesmo você não gostando dele, ou de sua história, como e por que surgiu a idéia de escrever sobre a vida de Mickey Dora, um dos maiores e mais controversos mitos da história do surfe?
OP - Porque o Surfe, na real, no pico, quando está perfeito, é puro MIKE DORA: disputa, raiva, ‘forçação’, intimidação, localismo, exibicionismo, egotrip de tudo quanto é jeito.
E quando fica grande, ‘size’, nervoso, e pouca gente entra (entre eles eu, coitado de mim), é puro MIKE DORA de novo: todo mundo se respeitando, torcendo para quem se arriscou no drop, cada um ligadaço no outro, pois se um sair remando forte para o outside, podes crer, é bomba rainha que vem vindo, nem precisa olhar, paddle for your life. E quando um acerta o drop, é uma vitória de todos, pois além da lindeza que é, é também a certeza que vai dar para sair vivo dali, hahahaha...
Mas, o pior é fora d'água, quando a gente vê neguinho fazendo de tudo, deixa eu repetir, DE TUDO, para continuar a surfar. É como disse o Bob Cooper: "todos nós nos prostituimos para ficar na praia...". Como fazer para viver só surfando? Essa é a questão fundamental, básica que cada surfista tem que resolver. E que poucos vão conseguir...
Essa questão ele – Mickey Dora - resolveu, por toda vida não fez outra coisa senão surfar. Como resolveu a gente vê na vida dele e revê na vida de quase todos nós.
OP - Porque o Surfe, na real, no pico, quando está perfeito, é puro MIKE DORA: disputa, raiva, ‘forçação’, intimidação, localismo, exibicionismo, egotrip de tudo quanto é jeito.
E quando fica grande, ‘size’, nervoso, e pouca gente entra (entre eles eu, coitado de mim), é puro MIKE DORA de novo: todo mundo se respeitando, torcendo para quem se arriscou no drop, cada um ligadaço no outro, pois se um sair remando forte para o outside, podes crer, é bomba rainha que vem vindo, nem precisa olhar, paddle for your life. E quando um acerta o drop, é uma vitória de todos, pois além da lindeza que é, é também a certeza que vai dar para sair vivo dali, hahahaha...
Mas, o pior é fora d'água, quando a gente vê neguinho fazendo de tudo, deixa eu repetir, DE TUDO, para continuar a surfar. É como disse o Bob Cooper: "todos nós nos prostituimos para ficar na praia...". Como fazer para viver só surfando? Essa é a questão fundamental, básica que cada surfista tem que resolver. E que poucos vão conseguir...
Essa questão ele – Mickey Dora - resolveu, por toda vida não fez outra coisa senão surfar. Como resolveu a gente vê na vida dele e revê na vida de quase todos nós.
SM - Fale um pouco do livro. Por que os cacos de um espelho na capa da obra? Por que cada surfista tem um pouco de Dora?
OP - Resolvi fazer um livro do cacete, para arrasar, usando tudo que sabia de edição de arte, manual, artesanal. Ultra luxuosa. Quis homenagear o Dora e também o Surfe brasileiro, quis mostrar para todos surfistas em todo mundo, que o Brasil sabe das coisas, e fez o livro mais precioso que o esporte fez - não são palavras minhas, são daqui e de fora. O primeiro livro que vendeu, foi uma das quatro edições em inglês, para um dos maiores colecionadores de livros de s
OP - Resolvi fazer um livro do cacete, para arrasar, usando tudo que sabia de edição de arte, manual, artesanal. Ultra luxuosa. Quis homenagear o Dora e também o Surfe brasileiro, quis mostrar para todos surfistas em todo mundo, que o Brasil sabe das coisas, e fez o livro mais precioso que o esporte fez - não são palavras minhas, são daqui e de fora. O primeiro livro que vendeu, foi uma das quatro edições em inglês, para um dos maiores colecionadores de livros de s
surf que existe, e que tem mais de 1800 títulos –
Joe Tablet, uma banca virtual de livros e revistas de surfe.
E quis também mostrar o quanto de MIKE DORA tem em cada um de nós. Por isso, fiz uma capa onde tem 64 espelhos, como se fossem pedaços quebrados, de modo que o surfista, ao se olhar, visse seus pedaços e nunca uma imagem completa. Que é o nome do livro, Dora Em Pedaços ou DORA IN PIECES, em inglês.
Mas não quis simplesmente quebrar o espelho, dando uma martelada. Pedi a um jovem estudante de engenharia, hoje já formado, Sinjin Yano, que fizesse um cálculo, de modo que cada pedaço tivesse entre si e entre o retângulo que os reúne, a razão de 1,025, que é o número da densidade da água do mar. Achei que o chic do Dora iria apreciar o requinte...
E quis também mostrar o quanto de MIKE DORA tem em cada um de nós. Por isso, fiz uma capa onde tem 64 espelhos, como se fossem pedaços quebrados, de modo que o surfista, ao se olhar, visse seus pedaços e nunca uma imagem completa. Que é o nome do livro, Dora Em Pedaços ou DORA IN PIECES, em inglês.
Mas não quis simplesmente quebrar o espelho, dando uma martelada. Pedi a um jovem estudante de engenharia, hoje já formado, Sinjin Yano, que fizesse um cálculo, de modo que cada pedaço tivesse entre si e entre o retângulo que os reúne, a razão de 1,025, que é o número da densidade da água do mar. Achei que o chic do Dora iria apreciar o requinte...
Dora in Pieces. Foto: Oswaldo Pepe/Arquivo Pessoal |
SM - Por que o surfista faz qualquer coisa para estar próximo do meio que o envolve?
OP - Por causa do Surf. Surfar é o mais próximo que há de ser totalmente feliz.
SM - Até então, qual a repercussão que esta obra de arte teve no meio surfístico, e fora dele?
OP - Claro que sempre é uma repercussão pequena, nem todo mundo é ligado em ler, bem ao contrário; mas ainda assim nossa tribo é super ligada em suas histórias, sua cultura e tem uma literatura, cinema, fotografia, arte, música, artes gráficas, logotipias, moda etc próprias. É o esporte que tem a cultura mais rica, de longe. Assim, eu meio que me beneficiei, aqui e lá fora, com as pessoas certas amando o livro e dando a maior força. Estou realizado, só aparecer em seu blog, que é core, raiz do esporte, já vale demais!
SM - Você teria algum depoimento sobre algum "Dora" brasileiro que você conheça que, de alguma forma, se encaixe dentro de algum perfil sugerido pelo seu livro, para exemplificar a mensagem de que dentro de cada surfista existe um "Dora" - subconsciente ou não -, fazendo tudo para estar perto daquilo que mais gosta?
OP - Um dos maiores DORAS que temos é o ROMEU ANDREATTA – Fundador da Fluir. Outro é o ALFIO LAGNADO, embora com estilos completamente diferentes. Você é um deles, e certamente quem está nos lendo agora também. Não existe surfista verdadeiro, real, que não seja, em sua medida, um MIKE DORA. Falei, é isso, desculpem.
Participe, enviando acontecimentos curiosos, contando o que você já fez para estar perto do mar e do surfe, engrandecendo assim, esta obra de Oswaldo Pepe, confirmando assim que o mito Mickey Dora ainda vive em cada um de nós.
Texto e entrevista por Eduardo Rosa
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