DUNAS DA RIBANCEIRA EM IMBITUBA, PODEM DESAPARECER

EXTRAÇÃO DE AREIA CONTINUA E ÁREA DEVASTADA JÁ É IMENSAMENTE MAIOR

A área degradada que aparece na foto, não contempla ao total que realmente é visível. Foto: Paulo Armando.

A Natureza e as Baleias Franca

Há milhares de anos, a natureza esculpiu uma paisagem arenosa deslumbrante, num dos paraísos mais bem preservados no sul do Brasil. Teve o cuidado em proporcionar a junção de vários fatores para nestes tempos recepcionar um ser vivo que até pouco tempo foi considerado quase a beira da extinção.

As Baleias Francas, depois de muitos anos afastadas, devido a sua pesca indiscriminada, resolveram voltar em maior número a frequentar o litoral catarinense, e parecem ter escolhido um local diferenciado para se reunir em quantidade superior a outros locais.

Ano a ano, a praia da Ribanceira recebe um número maior de baleias para sua procriação, fazendo assim, a alegria dos frequentadores que lhes avistam de muito perto, nesta época do ano - de agosto a novembro. Dezenas de mamíferos posicionam-se pela a extensa faixa de areia que vai até a praia da Barra da Ibiraquera.

Começo Meio e Fim das Dunas da Ribanceira

Maquinas e caminhões trabalham intensamente e aos pouco vão descobrindo a área das dunas. Foto: Paulo Armando.

Mas, há cerca de 10 anos, esta estonteante visão de gigantescas montanhas de areia, cercada por vegetações nativas, restinga e água por quase todos os lados, vem sendo colocada a prova numa das maiores explorações indiscriminadas já vistas.

Ainda hoje é possível se fazer uma subida de cerca de 20 a 30 minutos até o ponto máximo da caminhada, onde uma surpresa está guardada. Aliás, duas...

A primeira, uma visão descomunal da praia da Ribanceira, em toda a sua extensão, até a praia da Ibiraquera, juntando-se logo ao lado a Lagoa da Ibiraquera. Dali, também, é possível assistir o show que as baleias fazem em seu habitat natural.

A felicidade gerada por tal avistagem dá lugar a uma preocupante visão já incorporada ao cenário surrealista que vem se transformando nos últimos anos, as dunas da praia da Ribanceira, considerada umas das mais altas existentes.

Boa parte das maiores dunas já não existe mais e, ainda, mais da metade do espaço destinados a elas já está descoberto, onde máquinas e caminhões, dia a dia, ferozmente, continuam a retirar areia.

Areia Retirada e sua Possível Utilização

Funcionando através de uma liminar da justiça, aguarda a decisão enquanto as dunas vão sumindo. Foto: Paulo Armando.

O destino da areia retirada ainda é incerto. Segundo informações dadas pela empresa mineradora em seu site, dão conta que das areias extraídas obtém-se a sílica, entre outros, que também são utilizados para produção de vidro.

Por outro lado, foi apurado também, que várias empresas também compram a areia retirada das dunas da Ribanceira, para fazer argamassa e rejuntes cerâmicos.

Informações dispostas em Despacho emanado pela 1ª Promotoria de Justiça deImbituba do Ministério Público de Santa Catarina, 09 de dezembro de 2011 e em 04 de maio de 2012,dão conta da possível utilização das areias na construção civil, reiterando ainda que "há riscos a segurança pública, vez que, a areia retirada do local é entregue para fábrica de concreto e posteriormente utilizada pela construção civil".

A Comunidade, o Incomodo e Possíveis Ameaças.

A altura desta dunas impressionam. Foto: Eduardo Rosa

Moradores que vivem ao lado das dunas da Ribanceira, reclamam da incomoda presença da mineradora, que nos últimos meses vem fazendo retiradas inclusive, à noite. O barulho das máquinas e dos caminhões pode ser ouvido durante várias madrugadas, mesmo pouco distante, incomodando seu descanso diário.

Com conhecimento, reclamam também que as maiores dunas já não existem mais. E que histórias de pessoas armadas trabalhando para a mineradora, são dadas a desinformados turistas, que costumam subir as dunas para visitação.

Mineradora Embargada, mas Funcionando sob Liminar

Enquanto nada for feito as restingas e a vegetação da Praia da Ribanceira estará condenada. Foto: Paulo Armando.

No âmbito judicial, o trabalho da empresa já foi embargado algumas vezes, inclusive, expedido multas em caso de retorno das atividades, o que foi comprovado durante o período compreendido ao início da atuação do Ministério Público, em 2002.

As constantes atividades da empresa mineradora e o trabalho do MP geraram uma ACP - Ação Civil Pública - que ainda tramita sem julgamento definitivo. Tal demora na decisão, levou a mineradora a buscar no Tribunal de Justiça de SC, uma liminar para continuidade de suas atividades.

Desde então, mesmo com a decisão definitiva prevista pelo MP a ser dada em pouco mais de um ano, gerando assim recursos e demora, a mineradora, além de poder continuar trabalhando por meio de uma liminar, parece ter intensificado suas atividades, agilizando ainda mais a retirada de areia, e a profunda degradação da área em questão.

A Luta de Um Guerreiro


A olhos vistos, é inconcebível e triste esta degradação. A comunidade tem se unido em torno da causa e através de Luiz Antonio Silva, buscam mostrar a degradação ocorrida, o incomodo aos moradores e pedem a total paralisação da mineradora antes que o pior venha a acontecer.

Um guerreiro nato, Luiz lutou por algum tempo quase sozinho, mas vem ganhando voz nos últimos tempos, se reunindo com entidades e até com a própria mineradora, mas não conseguindo até agora um efeito prático na busca de seu ideal e de muitos viventes de sua comunidade.

Luiz é presidente do Conselho Comunitário do Bairro Arroio, em Imbituba, e nos últimos anos vem se tornando uma referencia em toda esta discussão em torno das dunas da Ribanceira.

Em seu blog, 'Arroio em Foco', traz muitas informações e denuncias relevantes, cobrindo e combatendo desde seu principio qualquer tomada de decisão e tentando mostrar o quão prejudicial é esta empreitada que vem sendo feita pela mineradora.

O Fim Que Não Justifica os Meios

Manifestações já foram organizadas mas ainda não tiveram o efeito pretendido. Foto: Arquivo Pessoal André Igreja.

Segundo informações, a mineradora tem uma autorização federal para explorar a área, que fica dentro da APA - Área de Preservação Permanente -, e que neste momento vem sendo discutida na justiça. 

O seu funcionamento através liminares, vem sendo discutido por todos que acompanham o processo e que viram a intensificação dos trabalhos e da degradação nos últimos meses.

Neste momento, o tempo é inimigo do que ainda resta daquele patrimônio ambiental. E se algo não for feito até o fim das discussões, que tramitam na justiça, estaremos condenando um bem público que poderia estar servindo ao turismo e as ações sociais, ao seu fim.

Quem quiser participar da Campanha para preservação das Dunas da Ribanceira, em Imbituba, nas redes sociais, clique aqui

Por Eduardo Rosa

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