PUBLICADO NA REVISTA ROSA SHOCK - EDIÇÃO 2016/2017
Capa da edição 2016/2017 da Revista Rosa Shock. |
Já se foi o tempo da brilhantina, quando todos só queriam agito em locais fechados, dança e música. O mundo após os Anos 70 caiu na real, e a partir de Woodstock criamos a consciência de um mundo “mais perfeito” a perseguir. Esta necessidade, aliada ao crescimento exponencial de alguns destinos turísticos como a Praia do Rosa, exigiram maior organização política e gestão pública mais eficiente, o que infelizmente não aconteceu por aqui.
O primeiro revés à exuberante natureza do Rosa veio ainda no milênio passado, quando no canto norte da praia, da noite para o dia, ruas calçadas brotaram num lugar até então intocado, bucólica pastagem de bovinos cortada por uma trilha que levava ao pico onde ondas perfeitas quebravam com vento Nordeste.
Invasores de casas no Rosa expulsos pela comunidade sendo conduzidos pela Polícia Militar de Imbituba. Foto: Arquivo/Rosa Shock |
A velocidade do crescimento da praia entrou em choque com a falta de visão dos governantes, que não acompanharam esta evolução. Da praia para o interior, o Rosa cresceu sem qualquer planejamento. As ruas continuaram estreitas, calçadas e passeios públicos foram esquecidos, saneamento básico nem pensar.
Este crescimento desordenado multiplicou moradias, casas de aluguel, pousadas, bares, restaurantes e casas noturnas, sem a devida fiscalização dos órgãos responsáveis. A criminalidade cresceu, tornou-se cotidiana, e a falta de um policiamento efetivo virou grave preocupação para os moradores e turistas.
Logo ao lado, as Dunas da Ribanceira eram, pode-se assim dizer, “saqueadas”, para atender ao mercado da construção civil e obras públicas como a duplicação da BR-101. Somente em 2014, após décadas de luta, o Movimento SOS Dunas da Ribanceira conseguiu barrar a destruição daquele importante patrimônio natural, uma vitória que parece haver marcado o início de uma nova consciência na população local.
A partir daí, moradores e entidades locais se uniram com o objetivo de ajudar o Poder Público na solução dos problemas que afetam a comunidade e colocam em risco seu futuro. Construções irregulares, aterros sem autorização na Lagoa de Ibiraquera e nos banhados no Rosa, bares com som alto e sem condições acústicas e de segurança passaram a cair na “malha fina” dos moradores que exigem respeito, menos agito e mais cuidado com a natureza. O gatilho desta união espontânea aconteceu quando jovens aproveitadores foram expulsos pela comunidade de casas de veraneio que haviam invadido sumariamente, para “curtir” o início do verão.
Desde sua penúltima edição, o Rosa Shock destacou o trabalho do Movimento SOS Dunas da Ribanceira. Foto: João Batista Coelho. |
A construção de uma enorme casa em meio à vegetação nativa, próximo ao costão do Rosa Norte, foi outro motivo de protestos e união da comunidade, que passou a questionar a utilização dos espaços à beira-mar. O movimento SOS Rosa Norte se uniu ao Conselho Comunitário de Ibiraquera, e juntos promoveram uma manifestação histórica que agitou a praia e a Câmara de Vereadores, comprovando que a comunidade havia se engajado na busca de soluções para os problemas gerados pelo progresso.
Sob o fantasma da famigerada ICC, outro exemplo é o movimento “Fora Cattalini”, que mobilizou a comunidade imbitubense, agitou e lotou também a Câmara de Vereadores com a manifestação de mais de 200 pessoas, além de promover uma peladalada, contra a instalação de uma empresa de graneis líquidos – combustíveis e produtos químicos – junto ao Porto de Imbituba, ameaçando repetir de forma ainda pior – envolvendo toda a orla marítima - desastres ambientais como os que aconteceram em Santos – no qual tanques de combustíveis queimaram por nove dias seguidos - e em Paranaguá – em que o vazamento de produtos no canal destruiu a vida marinha e condenou a pesca e o meio de trabalho de milhares de pescadores na região.
Movimento Fora Cattalini que também sensibilizou muita gente na praia do Rosa sobre a instalação de uma empresa de graneis líquidos na cidade. Foto: Eduardo Rosa. |
Os erros e omissões do passado não podem ser apagados, e a ideia não é culpar, mas resolver e adequar. Em nome do futuro, os moradores exigem mais segurança, mais atenção e maior fiscalização por parte do Poder Público, na tentativa de recuperar o tempo perdido e preparar um futuro melhor para todos.
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