“O dono de um pequeno comércio, amigo do poeta Olavo Bilac, abordou-o certa vez na rua: - Sr. Bilac preciso vender minha propriedade que o senhor bem conhece. Poderia, por gentileza, redigir o anúncio para o jornal? Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:" Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo. Cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda". Meses depois, o poeta reencontrou o amigo e perguntou-lhe se havia conseguido vender a propriedade.- Nem pense mais nisso Sr. Bilac. Quando li o anúncio que o senhor escreveu é que percebi a maravilha que tinha nas mãos.”
O Início
As praias de Imbituba foram desbravadas por famílias gaúchas no fim da década de 60 e início dos anos 1970. Foi na casa de Jorge Johampetter que, por meio de um mapa, descobriu-se que o litoral catarinense era todo recortado por costões, com reais possibilidades de boas ondas.
Os Johampetter, os Bins, os Chaves Barcelos, os Pettini e os Sefton chegaram no inverno de 66. A partir de então, todos os feriados, finais de semana e principalmente nas férias, o roteiro Porto Alegre – Imbituba era percorrido em verdadeiros surfaris reunindo toda moçada em cerca de oito a dez carros. Eram doze horas de viagem por estradas de chão batido, passando por muitas cidades. A linha do trem cruzava a estrada a toda hora. A princípio todos ficavam hospedados no Hotel do Moreira, o único da cidade.
O Início
As praias de Imbituba foram desbravadas por famílias gaúchas no fim da década de 60 e início dos anos 1970. Foi na casa de Jorge Johampetter que, por meio de um mapa, descobriu-se que o litoral catarinense era todo recortado por costões, com reais possibilidades de boas ondas.
Os Johampetter, os Bins, os Chaves Barcelos, os Pettini e os Sefton chegaram no inverno de 66. A partir de então, todos os feriados, finais de semana e principalmente nas férias, o roteiro Porto Alegre – Imbituba era percorrido em verdadeiros surfaris reunindo toda moçada em cerca de oito a dez carros. Eram doze horas de viagem por estradas de chão batido, passando por muitas cidades. A linha do trem cruzava a estrada a toda hora. A princípio todos ficavam hospedados no Hotel do Moreira, o único da cidade.
Com ajuda do Sr. Pudico, corretor de terras da região, foram desbravadas novas praias. Rosa, Vermelha, Ferrugem, Silveira, Ouvidor, Ibiraquera e Itapirubá eram percorridas seguindo-se os caminhos de carros de boi. O legal disso tudo é que os integrantes destes surfaris iam sempre para o mesmo pico. Ninguém se dividia. E quando atolava algum carro, havia muita solidariedade. Ninguém ficava pelo caminho, recorda Paulo Sefton um dos pioneiros.
A praia do Porto foi a primeira base das famílias gaúchas em Santa Catarina. Eram cerca de cinco casas no canto direito, também conhecido como Canto do Paraná. Aquela imensa área verde, com suas árvores centenárias, também era chamada de “Bosque” e dividia as praias do Porto e da Vila. Aquilo era a Disneylândia para qualquer surfista: vento nordeste terral na Vila; com o vento sul, a praia do Porto estava protegida. De acordo com o swell e o vento, bastava cruzar o Bosque pra fazer a cabeça.
Entre os locais, Zé Henrique Costa, conhecido como Lilico, Tadeu, Marinho e César, adquiriram, juntos a primeira prancha, mas apenas Lilico conseguia se equilibrar. Renato Picarski, Mezo, Natanael, Cláudio, Baia, Ivinho, Gariba, entre tantos outros da tão falada “Rua de Baixo”, Clever, Neno e Nabor Heleodoro, Carlos Capaverde, Jota, Gil de Bona, Chicão, Machucho, Marisco da Vila Nova e Flavinho Bortolluzzi (primeiro fabricante de parafinas da cidade), entre muitos outros, também colocaram seus nomes na “linha de arrebentação” do surfe imbitubense.
A praia do Porto foi a primeira base das famílias gaúchas em Santa Catarina. Eram cerca de cinco casas no canto direito, também conhecido como Canto do Paraná. Aquela imensa área verde, com suas árvores centenárias, também era chamada de “Bosque” e dividia as praias do Porto e da Vila. Aquilo era a Disneylândia para qualquer surfista: vento nordeste terral na Vila; com o vento sul, a praia do Porto estava protegida. De acordo com o swell e o vento, bastava cruzar o Bosque pra fazer a cabeça.
Entre os locais, Zé Henrique Costa, conhecido como Lilico, Tadeu, Marinho e César, adquiriram, juntos a primeira prancha, mas apenas Lilico conseguia se equilibrar. Renato Picarski, Mezo, Natanael, Cláudio, Baia, Ivinho, Gariba, entre tantos outros da tão falada “Rua de Baixo”, Clever, Neno e Nabor Heleodoro, Carlos Capaverde, Jota, Gil de Bona, Chicão, Machucho, Marisco da Vila Nova e Flavinho Bortolluzzi (primeiro fabricante de parafinas da cidade), entre muitos outros, também colocaram seus nomes na “linha de arrebentação” do surfe imbitubense.
Por volta de 1971, Bento Xavier da Silveira foi o primeiro surfista do eixo Rio-Sampa a pegar ondas na região e sentir o potencial do lugar. Rapidamente a notícia de boas ondas se espalhou e a invasão não tardou. Renan Pitanguy, Paulo Proença, Toni Catão, Roberto Perdigão, Daniel Friedman, Rico de Souza, Maraca, Penho, Wanderbill, Arnaldo Spyer, Dani Boi, Roberto Sombra, Fedoca e mais um monte de cariocas e paulistas chegaram logo em seguida em busca de ondas e diversão.
Perdigão, Darci Guimarães e Toni Catão desbravando a Zimba década de 70.
A família de Toni Catão (de short azul e óculos na foto acima) surfista carioca, era a responsável pela exploração do porto e possuía várias casas à beira-mar. A mais imponente era conhecida como Chalé 4. Esse, com uma vista única da praia da Vila, hospedou muita gente e tornou-se a base para um novo estilo de vida de jovens descompromissados.
As pranchas eram as Raízes, do Fumaça e do Bocão Pegoraro, shapeadas pelo Mudinho. Tinha também as pranchas Pura Vida do shaper gaúcho Johnny B. Good, a Style do shaper local Nabor Heleodoro e a Original Surfboards do shaper Ricardo Ferraz. Nesse período surgia a Vic-Stick, do shaper Victor Vasconcelos que mais tarde mudaria para Hot Stick numa parceria com Pedro Bataglin. Também foi ali que iniciou-se a confecção das primeiras bermudas de surfe brasileiras, a marca Nazimbi (em referência à cidade - Na Zimbituba = Nazimbi), de propriedade do paulista Dani Boi.
Imbituba já era surf city muito antes de alguém imaginar que o surfe atingiria os patamares atuais de popularidade. Essa época era simplesmente fantástica. Foram os anos dourados e Imbituba era o templo do surfe, o paraíso.
Quando tudo conspirava a favor para a cidade explodir como autêntico pólo do surfe, surge a Indústria Carboquímica Catarinense, empresa estatal, poluente, que aproveitava o rejeito piritoso do carvão para produzir ácidos sulfúrico e fosfórico.
Os políticos e empresários, enxergaram naquele momento apenas a oportunidade de desenvolvimento a curto prazo e esqueceram de toda a destruição ambiental que o local sofreria ao aceitar uma indústria química.
Nesse período, a cidade chegou a ter uma certa estabilidade econômica com muitos empregos gerados principalmente pra quem chegava de outros estados. Nessa mesma época, os molhes do porto foram ampliados e as casas do Canto do Paraná destruídas. De quebra, sobrava aos moradores apenas o pó vermelho – óxido de ferro jogado pelas chaminés da ICC – que cobria boa parte da cidade como um tapete marrom – árvores, casas, ruas, nada escapava.
Com os sinais de poluição a cidade perdeu seu charme e o primeiro grupo de desbravadores gaúchos dividiu-se buscando outras praias na região de Garopaba. A corrente de malucos cariocas também esfriou e a cidade iniciava um período de mudanças radicais e de declínio. Imbituba caiu em um ostracismo tão forte, causado pelo enfeiamento da cidade e por uma série de outros fatores econômicos e políticos, que, em 1992, resolveu-se desativar a ICC. Era o fim da poluição!
As pranchas eram as Raízes, do Fumaça e do Bocão Pegoraro, shapeadas pelo Mudinho. Tinha também as pranchas Pura Vida do shaper gaúcho Johnny B. Good, a Style do shaper local Nabor Heleodoro e a Original Surfboards do shaper Ricardo Ferraz. Nesse período surgia a Vic-Stick, do shaper Victor Vasconcelos que mais tarde mudaria para Hot Stick numa parceria com Pedro Bataglin. Também foi ali que iniciou-se a confecção das primeiras bermudas de surfe brasileiras, a marca Nazimbi (em referência à cidade - Na Zimbituba = Nazimbi), de propriedade do paulista Dani Boi.
Imbituba já era surf city muito antes de alguém imaginar que o surfe atingiria os patamares atuais de popularidade. Essa época era simplesmente fantástica. Foram os anos dourados e Imbituba era o templo do surfe, o paraíso.
Quando tudo conspirava a favor para a cidade explodir como autêntico pólo do surfe, surge a Indústria Carboquímica Catarinense, empresa estatal, poluente, que aproveitava o rejeito piritoso do carvão para produzir ácidos sulfúrico e fosfórico.
Os políticos e empresários, enxergaram naquele momento apenas a oportunidade de desenvolvimento a curto prazo e esqueceram de toda a destruição ambiental que o local sofreria ao aceitar uma indústria química.
Nesse período, a cidade chegou a ter uma certa estabilidade econômica com muitos empregos gerados principalmente pra quem chegava de outros estados. Nessa mesma época, os molhes do porto foram ampliados e as casas do Canto do Paraná destruídas. De quebra, sobrava aos moradores apenas o pó vermelho – óxido de ferro jogado pelas chaminés da ICC – que cobria boa parte da cidade como um tapete marrom – árvores, casas, ruas, nada escapava.
Com os sinais de poluição a cidade perdeu seu charme e o primeiro grupo de desbravadores gaúchos dividiu-se buscando outras praias na região de Garopaba. A corrente de malucos cariocas também esfriou e a cidade iniciava um período de mudanças radicais e de declínio. Imbituba caiu em um ostracismo tão forte, causado pelo enfeiamento da cidade e por uma série de outros fatores econômicos e políticos, que, em 1992, resolveu-se desativar a ICC. Era o fim da poluição!
De volta para o futuro
O ressurgimento para o mundo das competições de surfe ocorreu com a realização do OP Pro em 94. A Vila voltou ao cenário escolhida para abertura do circuito brasileiro profissional. Com o sucesso do evento, a história começa a mudar. O turismo redescobre a cidade e até as Baleias Franca voltam a frequentar o paraíso em número cada vez maior.
No surfe, a semente do esporte, introduzida pela geração dos anos 70, voltou a crescer e continuou dando frutos. Várias gerações se formaram desde aquela época e suas praias continuam sendo destino para muitos surfistas.
Em 2000, foi a vez de a praia do Rosa sediar uma etapa do WLT, circuito mundial de longboard. Nos anos seguintes a Vila aparece novamente em destaque ao receber a penúltima etapa do Circuito Super Surf. Em 2003 uma nova história começa a ser escrita com a chegada dos principais nomes do surfe mundial que sedimentam de vez o nome da praia entre as melhores ondas do Brasil e do mundo.
A cidade ganha status de Capital do Surfe e se transforma. A prefeitura e o governo do estado se engajam no novo momento e, revitalizando a orla com calçamento, estacionamento, bancos, racks de prancha, decks de madeira e chuveiro, apóiam a vinda para Imbituba desta que é a principal competição internacional em águas brasileiras,
Títulos mundiais passam a ser decididos nas ondas da Zimba e a população que até então pouco se interessava pelo surfe, agora tem na ponta da língua os nomes da maioria dos tops da ASP. A pequena e pacata Imbituba no período do campeonato torna-se reduto de várias tribos. É gente de tudo quanto é canto. O que até alguns anos atrás, quando a cidade estava esquecida no tempo, era praticamente improvável de se dar, hoje se acontece todos os dias: a divulgação de Imbituba para o Brasil e para resto do mundo, e a vinda de turistas, o que gera renda para uma parte de sua população.
Atualmente a cidade trabalha também sua outra vocação ecológica, e se volta para o turismo de observação de Baleias que a visitam durante os meses de agosto a novembro para acasalar, procriar e amamentar seus filhotes.
O ressurgimento para o mundo das competições de surfe ocorreu com a realização do OP Pro em 94. A Vila voltou ao cenário escolhida para abertura do circuito brasileiro profissional. Com o sucesso do evento, a história começa a mudar. O turismo redescobre a cidade e até as Baleias Franca voltam a frequentar o paraíso em número cada vez maior.
No surfe, a semente do esporte, introduzida pela geração dos anos 70, voltou a crescer e continuou dando frutos. Várias gerações se formaram desde aquela época e suas praias continuam sendo destino para muitos surfistas.
Em 2000, foi a vez de a praia do Rosa sediar uma etapa do WLT, circuito mundial de longboard. Nos anos seguintes a Vila aparece novamente em destaque ao receber a penúltima etapa do Circuito Super Surf. Em 2003 uma nova história começa a ser escrita com a chegada dos principais nomes do surfe mundial que sedimentam de vez o nome da praia entre as melhores ondas do Brasil e do mundo.
A cidade ganha status de Capital do Surfe e se transforma. A prefeitura e o governo do estado se engajam no novo momento e, revitalizando a orla com calçamento, estacionamento, bancos, racks de prancha, decks de madeira e chuveiro, apóiam a vinda para Imbituba desta que é a principal competição internacional em águas brasileiras,
Títulos mundiais passam a ser decididos nas ondas da Zimba e a população que até então pouco se interessava pelo surfe, agora tem na ponta da língua os nomes da maioria dos tops da ASP. A pequena e pacata Imbituba no período do campeonato torna-se reduto de várias tribos. É gente de tudo quanto é canto. O que até alguns anos atrás, quando a cidade estava esquecida no tempo, era praticamente improvável de se dar, hoje se acontece todos os dias: a divulgação de Imbituba para o Brasil e para resto do mundo, e a vinda de turistas, o que gera renda para uma parte de sua população.
Atualmente a cidade trabalha também sua outra vocação ecológica, e se volta para o turismo de observação de Baleias que a visitam durante os meses de agosto a novembro para acasalar, procriar e amamentar seus filhotes.
Outro que redescobriu as ondas de Imbituba em grande estilo foi ele, o 9 vezes campeão Kelly Slater.
Se Olavo Bilac com um olhar romántico e com pequenas observações fez o amigo repensar a venda da sua propriedade, aqueles jovens cabeludos dos anos 60 transcenderam idade e fronteiras, e a herança deixada por eles, mesmo após o período negro da ICC, continuou a influenciar novas gerações e a impor definitivamente Imbituba como a Meca do surfe brasileiro.
Texto produzido originalmente para o Guia do WT da Revista Alma Surf. Por redução de espaço o texto não foi publicado na íntegra. Aqui ele aparece completo. Contei com o apoio dos amigos blogueiros Beda Batista e Eduardo Rosa, locais da Zimba.
Reproduzido por SURFEMAIS.
Texto produzido originalmente para o Guia do WT da Revista Alma Surf. Por redução de espaço o texto não foi publicado na íntegra. Aqui ele aparece completo. Contei com o apoio dos amigos blogueiros Beda Batista e Eduardo Rosa, locais da Zimba.
Por Maurio Borges do blog ALOHAPAZIADA.
Reproduzido por SURFEMAIS.
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